Os pés das crianças estão em constante desenvolvimento, passando por diversas fases de crescimento e adaptação até atingirem sua forma definitiva. Muitos pais ficam preocupados ao notar que os pés dos filhos possuem alguma característica diferente, como pisada para dentro, dedos sobrepostos ou formato mais arqueado. Mas será que toda alteração nos pés da criança precisa de tratamento?
A resposta depende de vários fatores, como a idade da criança, o tipo da alteração e se há algum impacto na marcha ou no conforto ao caminhar. Algumas mudanças são normais e fazem parte do desenvolvimento infantil, enquanto outras podem indicar condições que precisam de acompanhamento ortopédico. Neste artigo, vamos esclarecer as principais preocupações dos pais e explicar quais sinais merecem mais atenção.
Os pés mudam ao longo do crescimento
Nos primeiros anos de vida, é comum que os pés das crianças apresentem características que podem preocupar os pais, mas que, na maioria das vezes, são transitórias.
➡ Pé chato (pé plano flexível) – O arco plantar (curva natural da sola do pé) não é bem definido ao nascimento e pode levar alguns anos para se formar completamente. Até os 5 anos, é normal que o pé pareça achatado ao pisar, já que a musculatura e os ligamentos ainda estão se desenvolvendo.
➡ Pés virados para dentro (marcha em adução) – Algumas crianças apresentam um padrão de marcha em que os pés apontam para dentro. Em muitos casos, isso está relacionado ao posicionamento intrauterino e melhora espontaneamente com o tempo.
➡ Marcha na ponta dos pés – Algumas crianças, especialmente nos primeiros anos de vida, podem preferir andar na ponta dos pés. Se esse comportamento for ocasional e desaparecer com o tempo, não há motivo para preocupação. No entanto, se a criança persistir com essa marcha após os 3 anos de idade, pode ser um sinal de encurtamento do tendão de Aquiles ou estar associado a condições neuromusculares.
Quais são os sinais de alerta?
Nem todas as características dos pés infantis são inofensivas. Algumas alterações podem indicar a necessidade de acompanhamento especializado. Os pais devem ficar atentos se a criança apresentar:
✔ Dores frequentes nos pés, tornozelos ou pernas – Dor não é normal na infância e pode ser um indicativo de desalinhamentos estruturais ou problemas na marcha.
✔ Dificuldade para caminhar ou correr – Se a criança tem um padrão de marcha muito diferente das outras da mesma idade, tropeça frequentemente ou evita atividades físicas, isso pode ser um sinal de alteração biomecânica.
✔ Assimetria nos pés ou nas pernas – Se um pé tem um formato muito diferente do outro ou se há discrepância no comprimento das pernas, é importante investigar.
✔ Pés muito rígidos ou com limitações de movimento – Se a criança não consegue movimentar os pés livremente ou se há deformidades fixas, isso pode indicar condições como o pé cavo rígido ou o pé torto congênito.
✔ Marcha na ponta dos pés persistente – Se a criança mantém o hábito de andar na ponta dos pés além dos 3 anos, sem alternar com a pisada normal, é essencial uma avaliação ortopédica.
✔ Deformidades progressivas – Se um problema nos pés parece estar piorando com o tempo, em vez de melhorar espontaneamente, pode ser um sinal de que há algo além do esperado para a idade.
Principais alterações nos pés infantis e quando tratar
1. Pé chato (pé plano)
➡ O que é? Uma condição em que o arco plantar não se desenvolve adequadamente, deixando a sola do pé completamente plana.
➡ Quando se preocupar? Se a criança sente dor ao caminhar, tem fadiga ao correr ou se o pé chato persiste após os 6 anos.
➡ Tratamento: Palmilhas ortopédicas podem ser indicadas para suporte, além de exercícios para fortalecer os músculos do pé. Em casos raros, pode ser necessária cirurgia.
2. Pé cavo
➡ O que é? Um arco plantar muito alto, que pode causar dor, instabilidade e dificuldade para encontrar calçados confortáveis.
➡ Quando se preocupar? Se há dor, desequilíbrio frequente ou se o pé cavo surge progressivamente.
➡ Tratamento: Uso de calçados adequados, palmilhas especiais e, em casos graves, cirurgia para corrigir deformidades.
3. Marcha na ponta dos pés
➡ O que é? Crianças que andam exclusivamente na ponta dos pés, sem apoiar o calcanhar.
➡ Quando se preocupar? Se a marcha na ponta dos pés persiste além dos 3 anos ou está associada a rigidez no tornozelo.
➡ Tratamento: Alongamentos, fisioterapia e, em casos graves, uso de órteses ou cirurgia para alongamento do tendão de Aquiles.
4. Pés virados para dentro (marcha em adução)
➡ O que é? A criança anda com os pés apontados para dentro, o que pode ser causado por rotação excessiva da tíbia ou do fêmur.
➡ Quando se preocupar? Se houver tropeços frequentes, dores ou se a rotação for muito acentuada após os 4 anos.
➡ Tratamento: Na maioria dos casos, melhora naturalmente, mas pode ser indicado fisioterapia ou uso de palmilhas corretivas.
5. Pé torto congênito
➡ O que é? Uma deformidade presente ao nascimento, em que o pé está virado para dentro e para baixo.
➡ Quando se preocupar? O tratamento deve ser iniciado o mais cedo possível, idealmente nas primeiras semanas de vida.
➡ Tratamento: O método de Ponseti, que envolve gessos seriados e uso de órteses, é a principal abordagem. Em casos mais graves, pode ser necessária cirurgia.
O que os pais podem fazer para ajudar?
Observar a marcha da criança – Fique atento a mudanças no jeito de andar, tropeços frequentes ou qualquer sinal de desconforto.
Escolher calçados adequados – Opte por sapatos que ofereçam suporte e estabilidade, sem solados excessivamente rígidos ou muito flexíveis.
Incentivar atividades físicas – Brincadeiras que envolvem pular, correr e andar descalço em superfícies naturais ajudam no desenvolvimento da musculatura dos pés.
Consultar um ortopedista infantil se houver dúvidas – Sempre que perceber algo diferente nos pés ou na marcha do seu filho, busque avaliação especializada para garantir que ele tenha um crescimento saudável.
Nem toda alteração nos pés da criança exige tratamento, mas é essencial que os pais fiquem atentos aos sinais de alerta. Muitas características comuns na infância desaparecem naturalmente com o crescimento, enquanto outras podem necessitar de acompanhamento ortopédico para evitar complicações futuras.
Se você tem dúvidas sobre o desenvolvimento dos pés do seu filho, agende uma consulta com um ortopedista pediátrico para uma avaliação detalhada. O diagnóstico precoce pode garantir um crescimento saudável e prevenir problemas no futuro.