Paralisia Cerebral
A paralisia cerebral (PC) é uma condição neurológica causada por uma lesão cerebral que ocorre antes, durante ou logo após o nascimento, afetando a movimentação e a postura da criança. Embora a lesão cerebral não progrida ao longo da vida, as consequências ortopédicas podem evoluir e impactar significativamente a qualidade de vida do paciente. O manejo adequado dessas alterações é essencial para preservar a funcionalidade, evitar complicações e garantir maior conforto e independência.

Quais são as principais alterações ortopédicas na paralisia cerebral?
As crianças com PC podem apresentar alterações musculoesqueléticas progressivas devido ao desequilíbrio muscular, que resulta em contrações anormais e desalinhamentos ósseos. As principais alterações incluem:
1)Contraturas musculares
A espasticidade (rigidez excessiva dos músculos) pode levar a um encurtamento muscular progressivo, dificultando a movimentação normal das articulações. Isso limita a mobilidade e pode causar dor e desconforto.
2)Deformidades ósseas e articulares
O crescimento ósseo ocorre de maneira assimétrica devido à tensão muscular desigual, resultando em desalinhamentos, como:
- Joelhos em flexo ou hiperextensão – impedem a extensão completa da perna, tornando a caminhada instável.
- Desvio de rotação do fêmur ou da tíbia – faz com que os pés apontem para dentro ou para fora, prejudicando a marcha.
- Pé equino e pé cavo – alterações na estrutura do pé que afetam o apoio e o equilíbrio.
3)Luxação e subluxação do quadril
Crianças com PC podem desenvolver instabilidade do quadril, levando a subluxação (deslocamento parcial) ou luxação completa da articulação. Isso causa dor, limitação de movimentos e dificuldades para sentar e se posicionar. Sem tratamento, pode resultar em complicações irreversíveis.
4)Escoliose e deformidades na coluna
A falta de controle muscular adequado pode levar a uma curvatura anormal da coluna, conhecida como escoliose, que pode comprometer a postura, causar dores e, em casos graves, afetar a respiração.
5)Dificuldades na marcha
Muitas crianças com PC conseguem andar, mas apresentam padrões de marcha alterados devido ao desequilíbrio muscular. Algumas podem precisar de dispositivos de apoio, como órteses, andadores ou cadeiras de rodas.
Como identificar as alterações ortopédicas precocemente?
Os sinais variam conforme a gravidade do quadro, mas alguns indícios precoces incluem:
- Rigidez muscular exagerada ou fraqueza excessiva nos membros.
- Dificuldade para abrir completamente as pernas ao trocar fraldas.
- Padrão de marcha assimétrico, andar na ponta dos pés ou tropeços frequentes.
- Dificuldade para se sentar sem apoio ou manter o equilíbrio.
- Diferença no comprimento das pernas ou postura desalinhada.
- Dor nas articulações, que pode piorar com o tempo.
O diagnóstico precoce e o acompanhamento contínuo são essenciais para planejar o melhor tratamento e evitar a progressão das deformidades.
Quais são as opções de tratamento ortopédico para a paralisia cerebral?
O objetivo do tratamento ortopédico é melhorar a função motora, aliviar desconfortos e prevenir deformidades progressivas. Dependendo da idade e da gravidade do quadro, podem ser indicadas diferentes abordagens:
1)Tratamento conservador
Antes de considerar a cirurgia, diversas estratégias podem ajudar a controlar a espasticidade e manter a mobilidade:
- Fisioterapia intensiva – fundamental para alongamento muscular, fortalecimento e melhora da coordenação motora.
- Órteses e dispositivos de suporte – ajudam a alinhar as articulações, proporcionando estabilidade e facilitando a movimentação.
- Aplicação de toxina botulínica – relaxa músculos espásticos, facilitando o alongamento e prevenindo contraturas.
- Gessos seriados – utilizados para corrigir encurtamentos musculares e melhorar o alinhamento dos pés e tornozelos.
- Terapia aquática e exercícios funcionais – reduzem a sobrecarga nas articulações, promovendo fortalecimento e maior amplitude de movimento.
Essas intervenções são mais eficazes quando iniciadas precocemente, ajudando a evitar a necessidade de cirurgias mais complexas no futuro.
2)Cirurgias ortopédicas na paralisia cerebral
Quando as alterações musculoesqueléticas se tornam mais severas, a cirurgia pode ser indicada para restaurar a função e aliviar dores. Os principais procedimentos incluem:
Correção da luxação do quadril
O quadril pode se deslocar progressivamente, especialmente em crianças que não andam. A cirurgia busca reposicionar a articulação e impedir sua degeneração precoce.
Alongamento de músculos e tendões
Contraturas musculares severas podem limitar os movimentos e causar dor. O alongamento cirúrgico de tendões, como o de Aquiles ou os adutores do quadril, pode melhorar a mobilidade.
Cirurgia multinível
Frequentemente indicada para crianças que andam, essa técnica corrige múltiplas deformidades em uma única intervenção, incluindo desalinhamentos nos joelhos, tornozelos e quadris. Isso melhora o padrão de marcha e reduz o desgaste excessivo das articulações.
Osteotomias e correção óssea
Quando os ossos crescem desalinhados, pode ser necessário cortar e reposicionar segmentos ósseos para melhorar o alinhamento da perna e da marcha.
Cirurgia para correção do pé equino ou pé cavo
Essas deformidades podem impedir o apoio adequado dos pés. A cirurgia pode incluir liberações musculares, ajustes ósseos ou até fusões articulares em casos severos.
3)O papel da reabilitação e do acompanhamento contínuo
Independentemente do tratamento escolhido, a recuperação e a manutenção dos resultados exigem um acompanhamento rigoroso com equipe multidisciplinar.
- Fisioterapia pós-operatória – essencial para garantir a reabilitação adequada e readaptação do paciente à sua rotina.
- Monitoramento com exames de imagem – radiografias e avaliações clínicas regulares ajudam a acompanhar o desenvolvimento musculoesquelético.
- Adaptações na rotina – ajustes no ambiente domiciliar e escolar são fundamentais para melhorar a qualidade de vida da criança.
O tempo de recuperação varia conforme o procedimento realizado, mas a maioria das crianças volta às atividades diárias entre 6 e 12 meses após uma cirurgia ortopédica.
Por que o tratamento precoce é fundamental?
As deformidades musculoesqueléticas na paralisia cerebral não surgem de imediato, mas evoluem ao longo dos anos devido à espasticidade e ao crescimento ósseo desordenado. Quanto mais cedo forem identificadas e tratadas, maiores as chances de preservar a mobilidade e reduzir complicações futuras.
A avaliação periódica com um ortopedista pediátrico permite um diagnóstico preciso e a implementação das melhores estratégias para cada fase do desenvolvimento da criança.
Se seu filho apresenta sinais de alterações musculoesqueléticas associadas à paralisia cerebral, busque orientação especializada para definir o melhor plano de tratamento.