A mielomeningocele é uma condição congênita que afeta a coluna vertebral e o sistema nervoso, impactando a mobilidade e a postura das crianças. Para muitos pais, lidar com essa condição pode gerar dúvidas e inseguranças sobre o desenvolvimento motor e a qualidade de vida dos filhos. Nesse contexto, as órteses desempenham um papel fundamental, ajudando a melhorar o alinhamento corporal, proporcionando suporte muscular e favorecendo maior independência na locomoção.
Mas, afinal, quando as órteses são indicadas? Como funcionam? E quais os benefícios que podem trazer para as crianças com mielomeningocele? Vamos explorar essas questões em detalhes.
O que é a mielomeningocele?
A mielomeningocele é a forma mais grave da espinha bífida, um defeito congênito no fechamento da coluna vertebral durante o desenvolvimento fetal. Essa condição faz com que a medula espinhal e os nervos fiquem expostos ou mal protegidos, afetando funções motoras e sensoriais abaixo do nível da lesão.
Dependendo da gravidade da mielomeningocele e da localização da lesão na coluna, a criança pode apresentar diferentes graus de comprometimento motor, dificuldades no controle da bexiga e do intestino, além de deformidades ortopédicas progressivas.
Por que o uso de órteses é tão importante?
A falta de controle muscular nos membros inferiores leva ao enfraquecimento progressivo das articulações e à perda de estabilidade ao longo do crescimento. As órteses são fundamentais para evitar ou minimizar esses efeitos, oferecendo suporte à marcha e prevenindo deformidades ósseas e musculares.
O objetivo principal do uso de órteses em crianças com mielomeningocele é garantir um melhor alinhamento dos membros inferiores, estabilizar articulações e favorecer a mobilidade funcional. O tipo de órtese indicado varia conforme o nível da lesão e as necessidades individuais da criança.
Quais tipos de órteses podem ser utilizadas?
Existem diferentes tipos de órteses que podem ser indicadas para crianças com mielomeningocele, cada uma com funções específicas:
1. Órteses Suropodálicas (AFO – Ankle-Foot Orthosis)
Indicadas para crianças que apresentam fraqueza nos músculos responsáveis pela flexão e estabilização do tornozelo. Essas órteses ajudam a corrigir o posicionamento dos pés, evitando deformidades como o pé equino (quando o pé fica apontado para baixo) e melhorando a eficiência da marcha.
2. Órteses de Joelho-Tornozelo-Pé (KAFO – Knee-Ankle-Foot Orthosis)
Utilizadas em casos em que há maior comprometimento da força muscular nos membros inferiores. Essas órteses estendem o suporte desde o pé até o joelho, garantindo maior estabilidade ao caminhar e reduzindo o risco de quedas.
3. Órteses de Quadril-Joelho-Tornozelo-Pé (HKAFO – Hip-Knee-Ankle-Foot Orthosis)
Recomendadas para crianças com fraqueza significativa nos músculos do quadril, que não conseguem sustentar a marcha sem suporte. Essas órteses auxiliam na manutenção do alinhamento corporal, proporcionando equilíbrio e facilitando a mobilidade com o auxílio de dispositivos como andadores.
4. Órteses para controle postural e escoliose
Muitas crianças com mielomeningocele desenvolvem deformidades na coluna, como a escoliose. Nesses casos, coletes ortopédicos podem ser utilizados para ajudar a manter a postura correta e evitar a progressão da curvatura da coluna.
Quando a órtese deve ser introduzida?
O acompanhamento precoce com um ortopedista infantil e uma equipe de reabilitação é essencial para definir o melhor momento para a introdução das órteses. Em geral, o uso de órteses pode começar assim que a criança começa a demonstrar interesse em sustentar o peso do corpo e se movimentar, por volta dos 9 a 12 meses de idade.
A adaptação às órteses deve ser progressiva, e os pais desempenham um papel fundamental no incentivo ao uso contínuo. Quanto mais cedo a criança se adapta ao uso das órteses, melhores serão os resultados na mobilidade e na qualidade de vida.
Os benefícios das órteses no dia a dia da criança
As órteses ajudam a criança a ganhar independência e confiança para realizar atividades diárias. Além disso, proporcionam:
Melhor alinhamento postural – evitando deformidades ósseas que podem prejudicar a mobilidade no futuro.
Maior estabilidade ao caminhar – reduzindo quedas e melhorando a eficiência dos movimentos.
Prevenção de encurtamentos musculares e contraturas – facilitando a mobilidade e reduzindo dores associadas.
Facilidade na adaptação a outros dispositivos de apoio – como andadores e cadeiras de rodas, quando necessário.
Órteses substituem a fisioterapia?
Não! O uso de órteses deve ser sempre associado a um programa de reabilitação adequado. A fisioterapia desempenha um papel essencial no fortalecimento muscular, no estímulo ao equilíbrio e na melhora da coordenação motora da criança.
A combinação de fisioterapia regular e uso correto das órteses garante que a criança tenha um melhor desenvolvimento motor e maior autonomia ao longo da vida.
O papel da família no uso das órteses
Muitos pais se preocupam com a adaptação da criança às órteses, e é natural que surjam dúvidas e desafios no início. O mais importante é compreender que a aceitação do uso pode levar um tempo, mas com paciência e incentivo, a criança se adapta.
É essencial que os pais estejam atentos a sinais como vermelhidão excessiva ou desconforto, que podem indicar a necessidade de ajustes na órtese. Além disso, é importante seguir as orientações médicas sobre o tempo de uso diário e os cuidados necessários para garantir a eficácia do tratamento.
O uso de órteses em crianças com mielomeningocele é um recurso essencial para melhorar a mobilidade, a estabilidade e a qualidade de vida. Com o acompanhamento ortopédico adequado e um plano de reabilitação bem estruturado, a criança pode alcançar maior independência funcional e se desenvolver da melhor forma possível.
Se seu filho tem mielomeningocele e você tem dúvidas sobre a necessidade do uso de órteses, agende uma consulta com um ortopedista infantil para uma avaliação completa!